quarta-feira, 27 de junho de 2012

A força do costume...

“Político é tudo ladrão”; “Rouba, mas faz”, “Faça um político trabalhar: não o reeleja”.  É com esse tipo de bordão que se revela a percepção do público em geral sobre a classe política brasileira. E se existe base factual para fundamentar algumas dessas percepções, muitas são as vítimas inocentes daqueles que se aproveitam da parcela sensacionalista da imprensa, mais preocupada em julgar a priori do que informar os fatos. Leva-se uma vida inteira para se construir uma reputação e apenas segundos para se colocá-la sob suspeita, quando não destruí-la irremediavelmente. E nesse processo faltam respeito, civilidade e ética, não apenas informação.

Nisso tudo, quem mais perde é o cidadão, já cansado das mazelas políticas no país, sem saber o que tem procedência ou não, sem informação qualificada para poder discernir entre o mau e o bom político. E aí, recorre-se aos chavões, que em alguns casos até têm algum fundamento. O fato é que muita gente mal intencionada se prevalece da desinformação, da falta de interesse do eleitor e da saturação de escândalos para jogar todos na mesma vala e confundir o público.... E quem ganha com isso? Quem não tem nada a perder, pois não está preocupado com a opinião pública, já que seus ganhos estão em outras fontes, depois de vencidas as eleições com as armas do “vale tudo”.

A exemplo do que já aconteceu outras vezes, estamos assistindo a tentativa de assassinato político de uma das figuras mais emblemáticas da vida pública em São Paulo: o Dr. Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho – doutor sim, pois é médico sanitarista – que está sendo acusado de receber suborno para beneficiar o Shopping Pátio Higienópolis. Digo ”tentativa”, pois estou segura de que a verdade prevalecerá e Eduardo Jorge terá sua reputação reestabelecida; embora, infelizmente, depois de muito sofrimento.

Não terá sido a primeira vez que procuram atingi-lo. No ano passado, aproveitando-se de dificuldades operacionais com a empresa responsável pelo programa de inspeção e manutenção veicular, fizeram alarde em relação ao contrato, imputando-lhe conduta duvidosa, quando na verdade tratava-se de questões processuais burocráticas iniciadas em gestão anterior e que a ele se relacionavam em função do cargo. Nada disso, porém, baseia-se em mais do que interpretação tendenciosa dos meandros processuais na administração pública, completamente incompreensíveis para o comum dos mortais, ou em acusações ocas, obtidas em depoimentos de pessoas cuja credibilidade pouco se conhece, para dizer o mínimo.
Nesse caso do shopping Pátio Higienópolis, com base no que tem sido noticiado, o que o leitor desavisado pode depreender? Vejamos. Uma pessoa, aqui chamada de “Testemunha D” como quis o Ministério Público, é ouvida em depoimento pelo promotor, sobre suposto esquema de suborno promovido no âmbito da Prefeitura de São Paulo, pelo diretor do departamento de aprovação. Até aí, dá para acompanhar.

A seguir, a matéria continua relatando que, no depoimento, a “Testemunha D” diz (diz?!?!?) ter participado em 2009 de reuniões (onde?) em que “ouviu o nome” do Secretário Eduardo Jorge mencionado (por quem, mesmo?) como sendo a pessoa que receberia parte da propina. A referida “Testemunha D” não declara ter estado com o Secretário ou alguém autorizado por ele, mas “diz” que um terceiro – que por sinal também nega essa afirmação - seria encarregado na sua firma (por quem, novamente?) a entregar o dinheiro pessoalmente ao Dr. Eduardo. Segundo a dita cuja, ela teria sido demitida da empresa por questionar seus superiores sobre esse esquema de corrupção. Tudo isso tem sido desmentido por outros envolvidos. A empresa, por sua vez, declara que a ex-funcionária foi demitida em abril de 2011 por malversação dos recursos da empresa, a qual está processando na Justiça do Trabalho... e por aí vai, mas para nós, isso não interessa de fato. 
Enfim, quanto à credibilidade das afirmações – não da pessoa -, precisa dizer mais alguma coisa? E isso é matéria pra jornalismo sério? Onde está a responsabilidade do jornal?

Quem sabe como foi o processo de Watergate que levou ao “impeachment” de Nixon nos EUA, sente saudades do jornalismo investigativo de qualidade...